Força Feminina na Bomba de Hiroshima: As Mulheres do Projeto Calutron

Gustavo Mendex


"As 'Garotas do Calutron': A História Secreta por Trás da Bomba de Hiroshima"

O lançamento do filme "Oppenheimer", dirigido por Christopher Nolan, trouxe à tona lembranças controversas do final da Segunda Guerra Mundial. Enquanto alguns relembraram com orgulho, outros enfrentaram lembranças terríveis. Entre as muitas histórias pouco conhecidas daquela época, destaca-se a narrativa das "garotas do calutron", cerca de 10 mil jovens cujo trabalho, em última análise, contribuiu para a criação do combustível fatal que resultou na morte de 140 mil pessoas em Hiroshima.

A palavra "calutron" deriva do termo "California University cyclotron", fazendo referência à Universidade da Califórnia em Berkeley, onde esses dispositivos foram concebidos. Esses aparelhos eram espectrômetros de massa que tinham a capacidade de separar os isótopos de urânio. Eles utilizavam um campo magnético para identificar o urânio-235, o material físsil da bomba atômica Little Boy, do urânio-238, um isótopo mais pesado e comum.

Nesse cenário de suspense pré-apocalíptico, no ano de 1943, milhares de jovens recém-formadas no ensino médio abandonavam suas comunidades diariamente para se dedicar ao trabalho na cidade de Oak Ridge, no estado americano do Tennessee, na famosa Planta de Separação de Isótopos Eletromagnéticos Y-12. Essa instalação era parte do Projeto Manhattan, sob a liderança de J. Robert Oppenheimer.

O trabalho desempenhado pelas "moças do calutron" era de extrema importância. A Y-12 contava com 1.152 calutrons instalados, e esse exército de jovens, também conhecidas como "calutron girls", conseguiu produzir, entre 1944 e 1945, um total de 64 quilos de urânio-235. Esse montante foi suficiente para alimentar a bomba que devastou Hiroshima em 6 de agosto de 1945.

Um dos aspectos mais notáveis dessa história é o nível de confidencialidade mantido. Os administradores do Projeto Manhattan mantiveram as 10 mil jovens completamente alheias ao que realmente estavam fazendo. Aquelas que demonstravam curiosidade sobre o trabalho simplesmente desapareciam de seus postos.

A justificativa para a contratação dessas jovens para operar os calutrons era de que sua falta de conhecimento no assunto permitiria uma operação mais eficiente. Ao não saberem exatamente o que estavam realizando, elas estavam mais inclinadas a notificar seus supervisores sobre quaisquer problemas que surgissem.

Foi apenas no fatídico dia 6 de agosto, quando a cidade de Hiroshima estava envolta em chamas, que as moças do calutron finalmente compreenderam a natureza exata de seu trabalho nos últimos dois anos. Uma das "calutron girls" concedeu uma entrevista ao canal AtomicHeritage do YouTube, onde compartilhou suas emoções ao descobrir a verdade.

"Era mais um dia de trabalho quando a notícia foi anunciada. A princípio, sentimos um alívio, pensando que a guerra havia terminado. Minha primeira esperança foi que meu namorado pudesse finalmente voltar para casa", disse ela. No entanto, ao conhecer o número devastador de mortos, suas reflexões mudaram: "Não gostei da ideia de ter tido qualquer participação nisso."

A história das "garotas do calutron" lança luz sobre um aspecto sombrio da Segunda Guerra Mundial, reforçando a importância de refletir sobre as consequências do desenvolvimento tecnológico e os impactos reais de nossas ações. Enquanto Hollywood revive essas memórias, é fundamental lembrar que por trás de cada avanço científico há vidas e histórias humanas complexas que merecem ser compreendidas e ponderadas.

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